O grupo de Jaguariúna, Synestesia, lançou em janeiro de 2020 seu segundo álbum, o EP M.HO.R.T.E. (Motivação Hostil e Rumo da Tua Existência), com oito faixas. O disco aborda questões políticas e sociais além de fomentar a cena do rap no interior, principalmente na cidade, onde reside o grupo.
Formado por Beiço, Leozera e Anauê, o Synestesia sucede seu trabalho de estreia, o EP V.I.D.A. (Viagem Instável Doce e Amarga) com uma continuidade a obra, ou seja, no primeiro projeto abordaram questões sobre o cotidiano e que conduzem a vida, nesse novo álbum não é diferente, as mesmas questões são abordadas, porém com um alerta de que dia que se vive te direciona para a morte, assim a mensagem para viver com sabedoria, se importando com o que realmente é necessário, sem perder tempo com o superficial.
O disco abre com a música "Trevas", que ganhou vídeo clipe pouco antes do lançamento do EP, numa produção audiovisual feita por Lucas Reis, pela Wild Vision Produções, enquanto que a produção musical é do MilGrauTape Estúdio. A música fala sobre os tempos sombrios que vivemos de valores trocados e de se manter firme na caminhada:
"Do plano de maldade que dilacera o coro do povo
maldade que pra quem convém é gozo.
Aqui tá tudo muito normal e bizarro.
Vou duvidar de que? Vou acreditar em quem?
Tudo soa duvidoso.
Tudo é incrível, tudo é escroto.
Disseram que 1 + 1 = 3, falei que era 2 e me chamaram de louco.
Tá decepcionado? Acho é pouco.
Vai babar ovo pra cuzão longe de mim
Seu mito é vômito!"
A segunda faixa é "Consequência" beat do MilGrauTape Studio , e faz jus ao seu titulo, numa oreiada do Synestesia para ficarem ligeiros com as mascaras que muitos empunham durante na nossa caminhada e sagacidade para identificar quem é de verdade nessa rápida passagem pela V.I.D.A.
"Sou ser humano e erro
procurando a lucidez pro meu ego cego.
Falsidade vende mais que crack
e isso não é mistério.
Qual é o seu ministério?
Tem gente que trabalha até morrer
tem gente gozando sem fazer por merecer
Muitos se achando
sem achar o que fazer
colocando a culpa da desculpa
que não aponta pra você."
Seguindo, temos a música "Vitral" instrumental do Silasman, alter ego do rapper Siloque, que fará feat na música seguinte. A letra fala sobre as válvulas de escape muitas vezes encontradas para ajudar a aliviar o peso do cotidiano e a manter o foco no que realmente interessa:
"Sei que vou sentir falta da sua busca.
O fato é que quem procura encontra
e minha busca é nada pretensiosa.
É que a V.I.D.A não dá boi pra quem hesita
cê tá ligada.
Se fosse fácil assim, moça, nem teria graça.
Enquanto isso a desgraça nos assola
tristeza atormenta vários lá fora
e eu só lamento
porque aqui, agora, do seu lado
não quero saber de mais nada
e quero que tudo se f..."
Na música "Choque", vêm as participações, o DJ TFX chegou junto no beat e o rapper de águas de São Pedro, Siloque, divide os vocais com Leozera e Beiço, em música que fala sobre a cena de rap do interior, as dificuldades e alegrias de estar inserido nesse meio:
"Cês não entenderam que nós quer esperança e não holofote
forte até umas horas.
Fazendo a matéria prima virar horta
tudo tem sua hora.
Olha que colheita da hora
TFX na batida é quem te degola.
Só moleque brabo no interior
como ninguém vê, mano?
Pelo amor, como ninguém vê?
Não dá nada não.
Sempre caminhamos sem sua opinião.
Não dá nada não, seus cuzão.
Sempre caminhamos sem sua opinião.
Quero ver quem vai somar com nois."
Há tempos que o Synestesia vem construindo uma "Obra" sólida em sua carreira, representando Jaguariúna e região no cenário nacional. A música fala sobre o caminho, que muitas vezes é mais importante do que o resultado final, pois é no percurso que está o aprendizado, e a constante busca pelo conhecimento nessa caminhada:
"Já faz alguns anos que fazemos um som.
Nos arriscamos, aprendo, aplico algo
espero por muito e me decepciono.
Mas tá suave, resultado não é tudo.
É importante o processo, a evolução vinda do trabalho.
Minha música é reflexo do que penso que sou
do que penso que vejo, é o que penso que faço.
Mixagem caseira a mente pira
meus manos me corrigem quando deixo o erro passar.
E o tempo não para, o mundo não para
pausa, pra mente respirar e bora lá."
Em "Quando" o grupo mistura Cazuza com DMN em um dos encontros que só o rap nacional proporciona. A melodia é o destaque da canção que faz a conexão com as demais através da mensagem de se importar com aquilo que realmente é essencial, e buscar a saída em coisas simples, ao mesmo tempo que enfrenta as mais complexas. O beat é novamente de Silasman:
"A melodia tá na alma do brasileiro
descolar os segredos, descolar os segredos.
Vivência, respeito, humildade, sempre em primeiro
É o que precisa, pensa
é o que precisa.
Não se deixe levar por coca, a kryptonita
Se tá fora nem cisca
se estiver dentro, Cisco!"
Na faixa "Busca", penúltima do disco M.HO.R.T.E, aqui o Synestesia fala da correria, de busacar as oportunidades, de entregar currículo, de pegar condução, de ir atrás, um rotina que é difícil, mas ainda mais se houver distrações, então aqui vem a mensagem para nos mantermos longe do que nos afasta do foco.
"O instinto instiga
o destino ninguém modifica, pira
com o Rap caipira
moda de viola salvando histórias de vida.
Representatividade.
Nós somos a voz da cidade
então vamos alertar os moleques
pra ficar longe do pó e do crack."
Fechando o álbum tem a música "Lua", uma love song, aqui Leozera e Beiço retratando em versos, cantado em cima de um instrumental produzido pelo MilGrauTape Studio, experiências românticas que tiveram e transformaram em poesia e no grande hit do EP:
"Linda, é artista e já foi minha arte.
Doida, já foi meu corre, minha sorte.
Já foi esboço na minha folha e chapei
traçando suas curvas inacreditáveis.
Curvas que percorri de fato e acelerei
ciente do perigo, porém, foda-se.
Viajei pra te ver
54 milhas pra te ter, pra ser seu
assim pensei, assim se fez.
E sei que te salvei da solidão, sei.
Captei cada sinal de afeto seu"
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