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Hip Hop Paraguaio: O Movimento No Solo Guaraní

Jeff Ferreira
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Igualmente ao Brasil, a maioria dos países vizinhos viveram a febre do breaking nos anos 80, fato que inseriu o Hip Hop na cultura urbana. Porém os brasileiros viviam uma cena quase que online com os Estados Unidos, replicando os passos da dança, técnicas de discotecagem, rimas, graffiti e produção no geral. A distância da cena brasileira para alguns países da América do Sul, chega a ser de mais ou menos dez anos, nossos hermanos conheceram a finco o hip hop nos anos 90, o que faz com a cena nesses países tem uma peculiaridade, não que esteja "atrasada", mas no sentindo de que tiveram que aprender e implementar  a evolução do movimento em menor tempo.

O Hip Hop no Paraguai teve inicio em meados dos anos 90, com Yamil Ríos, também conhecido com X-Ile (O Exilado), que viveu sua infância nos anos 80 nos Estados Unidos e cresceu em solo estadunidense com o Hip Hop, ao regressar a sua pátria, em 1992, foi percursor do break, graffiti e rap, sendo "professor" desses elementos. No país vizinho o break foi quem abriu as portas também, e em 1995 começou a se tornar popular, no entanto os b.boys paraguaios viviam intensamente o hip hop, rimando e grafitando ao mesmo tempo, sendo o rap secundário, e a dança, por não exigir equipamentos, o carro chefe da cultura.

Até que em 1998 X-Ile monta o grupo Maske 1, junto de Albert Giudici, Andrés Valdovinos e DJ P. López, e em 2003 gravam o primeiro disco de rap do Paraguai, o "Funktastic Five", em alusão ao grupo de Grand Master Flash, The Furious Five. Esse álbum trata-se de uma coletânea reunindo os pioneiros do rap paraguaio: Negro, 2.0, Sin Corte e Grito Rebelde, além de Maske 1 e X-Ile.

Albert Giudici, também conhecido como Ctrl Z, lembra que na fase inicial eram usados os vinis de seus avôs, e como base para o rap paraguaio ouviram muito funk e jazz e foram entendendo o hip hop e como produzi-lo.

"Capa do álbum Funktastic Five"

"Funktastic Five" possui canções autorais, porém o grupo Grito Rebelde trouxe a regravação/releitura, em versão rap, de "Recuerdos de Ypacaraí", do compositor Demetrio Ortiz, umas das mais famosas canções guaranis, também já foi regravada pela argentina Verónica Condomí, o estadunidense Neil Sedaka, o uruguaio Jorge Drexter, o espanhol Júlio Iglesias e o brasileiro Caetano Veloso. A música teve inclusive vídeo clipe em 2004 gravado na estação de trem de Ypacaraí. É o hip hop se aproximando da música popular paraguaia.

Video clipe da versão rap do grupo Grito Rebelde para "Recuerdos de Ypacaraí"

Porém antes disso, em 2002, Yamil Ríos havia participado da coletânea "El Nuevo Vuelo del Rock", pelo selo Kamikaze, gravando duas faixas "Check-it" e "Open Up Your Mind", ambas cantadas em inglês, e daí nasce o nome de X-Ile. Apesar do compilado ser um disco de rock, a obra apresentou as primeiras gravações de rap feitas no Paraguai. Além de Yamil, participou a banda Revolber FX (na época grafada como Revolver) que trazia em seu estilo influências do hip hop e que mais tarde se fundiram de vez como uma das características do grupo. 

Afim de propagar o Hip Hop por seu país, X-Ile cria o selo MadEye Records, responsável por lançamentos importantes que ajudaram na fomentação do rap paraguaio, além do álbum "Funktastic Five", de 2003 foi lançado o "The Next Groove" em 2004, com participação de Negro, Groova e El Enviado, recém contratados do Selo. Em 01 de agosto de 2004, um fato triste na história, o supermercado Ycuá Bolaños, em Assunção, sofre um incêndio e deixa 396 mortos, em solidariedade a tragédia a MadEye Records junta seus artistas para a produção de um rap em homenagem as vitimas, utilizando o intrumental de "Wonderful World", do álbum The Next Groove, a canção de comoção, "1A04", ganhou as rádios e programas de TV, e propagou o rap pelo solo guarani.

Canção "1A04" em homenagem as vitimas do incêndio no supermercado Ycuá Bolaños

O rap passou a ser visto com outros olhos pelos meios de comunicações paraguaios, como na oportunidade que em que o Canal 2 levou no programa Time Show, em 2007, os rappers Negro e Groova, que apresentaram, ao vivo, a música "Desde Lejos"


A cena do hip hop paraguaio foi se desenvolvendo através das batalhas de freestyle e de break dance. No improviso, a famosa competição espanhola, "Batalla de los Gallos", que se espalhou por todos os países de língua espanhola, inspirou competições similares no Paraguai, e propagou o rap principalmente entre os mais jovens. Poucos artistas de rap se dedicaram a gravar discos, são poucos os EPs e até mesmos singles, porém as batalhas de freestyle e o preparo para tais são algo comuns na cultura do Hip Hop paraguaio.

Na dança o Paraguai passou a figurar entre os maiores expoentes quando o assunto é expressão corporal, com destaque para o Hip Hop International Paraguay, franquia estadunidense, e um dos maiores projetos do pais que leva jovens a competições por todo o mundo.

Em 2010 é realizado o Festival UnoVsUno, com o objetivo de alavancar o hip hop no país, o evento organizou batalhas de freestyle e break, tendo como mestre de cerimonias o rapper Negro, além de show com DeeFlow e discotecagem de DJ Saturn. O Festival trouxe participantes de vários países da América do Sul, MC's do Chile e Argentina e b.boys do Brasil.

Em 2011 o DJ Saturn começa o projeto da coletânea "Almagama", lançando apenas em 2014 o primeiro volume com 33 nomes do rap paraguaio, dentre eles X-Ile, El Enviado, DeeFlow, Negro, Control Z, Maske 1, Denots MC's e vários outros. em 2015 é lançado o volume 2 com 19 nomes, repetindo o sucesso e trazendo uma bonus track com Funktastic Five: Negro, 2.0, Grito Rebelde, Maske 1, X-Ile, da Madeye Records, de 2003.


Capa dos volumes 1 e 2 da mixtape "Amalgama", coletânea do rap paraguaio

No ano de 2015, na cidade de San Lorenzo, aconteceu o Festival Oye Guaraní, outro marco importante para o Hip Hop paraguaio, que novamente reuniu participantes da America do Sul e firmava o país como um dos emergentes e promissores da cultura.

Em 2018 outro fato importantíssimo para o hip hop guaraní, a emissora Paraguay TV estreia o primeiro programa do genero no país, o La Base, com apresentação e direção geral de MASBe, o Martin A. Solis B., e com produção de Blass Martínez. O programa exibia curiosidades da cultura, entrevista com o público e artistas e também apresenta vídeo clipes de artistas paraguaios.


Programa "La Base", primeiro dedicado ao Hip Hop na TV paraguaia

Yamil Ríos, X-Ile, segue como uma das figuras mais importantes da cultura hip hop no Paraguai, além de seu pioneirismo, foi representante do país no Congresso Mundial de Hip Hop, em Paris, no ano de 2005.

Abaixo uma playlist com o melhor do rap paraguaio no Youtube, são 60 canções de boombap a trap, do eletrônico ao orgânico, das mesclas regionais com o funk, soul e jazz, estão nessa seleção: X-Ile, Rubio, Verso, Koa Ha'e, Kamon Trick, Deots Mc's, Revolber FX, Carlitos TFS, Alex Chaca, La Raiz, Kleina MC, Emcikario, PJota, El Complemento, Undress Cinco Mil, Recursoi & All Stars, Gusano, Negro, Groova, MasBe, Repi Guarani, Missmaela, FranFel, El Gary, Thonny 3F, DeeFlow, Diser, Unidad Trina, Reptile, Resaku, Esnou, MC Risco, Choco, Miguel Ferreira, Novique MC, Diem, El Viejo, Big Borda, Jaime Samor Pereira, El Enviado, Mombus, Loco Laviu, Toco de Conci, Kordiller, Mc Khopata, Blasther, Zurdo, Jad, Sanest Grito Rebelde e Gino Roque Stone. Se liga:



Confira também as entrevistas que o Submundo do Som fez com a banda Revolber FX e com o grupo Repi Guaraní:

Entrevista com Revolber FX - Clique aqui
Entrevista com Repi Guaraní - Clique aqui
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