O clássico LP Hip Hop Cultura de Rua completa hoje, dia 02/11, nada menos que 30 anos de história. Lançado pela gravadora Eldorado em 1988, o disco é o primeiro registro fonográfico de hip hop no Brasil, e trouxe para a coletânea os grupos O credo, Código 13, MC Jack & DJ Ninja (e A.G. Naja) e Thaide & DJ Hum.
O disco abre com o seu maior sucesso, o clássico "Corpo Fechado", de Thaide & DJ Hum, onde foi utilizado sample do tecladista e cantor estadunidense Bernard Wright, mais precisamente os primeiros segundos de “Haboglabotribin”, que também serviram como os primeiros segundos de “Corpo Fechado”. As baterias foram sampleadas da música “Pumpe Me Up”, do grupo de funky e R&B Trouble Funk. DJ Hum e os produtores Nasí e André Jung, pegaram o momento 3:41 da música “Change the Beat (Female Version)” de Fab Five Freddy para implementar a “Corpo Fechado”. Os riffs são da música “Genius of Love” do grupo Tom Tom Club e também tem o balanço de Noriel Viela, com a música “16 Toneladas”.
Na sequência tem Código 13 com faixa homônima, que depois da coletânea ficou conhecida como "O Código 13, o Tema". e contou com o guitarrista André Abujamra, na época integrante da banda Mulheres Negras, trazido por Dudu Marote para somar no disco.
Um time de bem diversificado assina a produção do disco, e naquela época ninguém sabia ao certo o que era o rap, e não compreendia sobre a sua produção. O grupo O Credo teve produção de Akira S, que já trabalhava com música eletrônica e tem formação em contrabaixo, e integrava a banda “As Garotas que Erram”, a dupla Thaide & DJ Hum tiveram produção pelos roqueiros da banda Irá! o vocalista Nasí (Marcos Valadão) e o baterista André Jung. MC Jack e o Código 13 foram produzidos por Dudu Marote, que anos depois produziu a banda Skank, e é importante ressaltar que o Código 13 teve a participação das guitarras de André Abujamra, e mais tarde passou a contar com instrumentos orgânicos em sua formação, funcionando como uma banda com baixo, guitarra, bateria e DJ.
O disco abre com o seu maior sucesso, o clássico "Corpo Fechado", de Thaide & DJ Hum, onde foi utilizado sample do tecladista e cantor estadunidense Bernard Wright, mais precisamente os primeiros segundos de “Haboglabotribin”, que também serviram como os primeiros segundos de “Corpo Fechado”. As baterias foram sampleadas da música “Pumpe Me Up”, do grupo de funky e R&B Trouble Funk. DJ Hum e os produtores Nasí e André Jung, pegaram o momento 3:41 da música “Change the Beat (Female Version)” de Fab Five Freddy para implementar a “Corpo Fechado”. Os riffs são da música “Genius of Love” do grupo Tom Tom Club e também tem o balanço de Noriel Viela, com a música “16 Toneladas”.
"Me
atire uma pedra
Que
eu te atiro uma granada
Se
tocar em minha face sua vida está selada
Por
tanto meu amigo, pense bem no que fará
Porque
eu não sei, se outra chance você terá ...
Você
não sabe de onde eu vim
E
não sabe pra onde eu vou
Mais
pra sua informação vou te falar quem eu sou
Meu
nome é Thaide
E
não tenho RG.
Não
tenho CIC.
Perdi
a profissional
Nasci
numa favela
De
parto natural
Numa
sexta feira
Santa
que chovia
Pra
valer"
"Não
adianta imitar de vestir hip-hop não se veste tem que se sentir
E
pense bem antes de dizer
Ao
que vocês nem vem a saber
Escutar
hip-hop é coisa normal
Entender
o hip-hop é onde está o mal
Sentir
essa música nos invadir
É
ser contra o racismo dizendo sim ... código 13 como o mundo se faz
De
loucos incansáveis que não voltam atrás
Mantendo
a esperança fugindo da ilusão
Esperando
apenas compreensão"
A faixa três é de MC Jack, com "Centro da Cidade", que não contém sample de som estrangeiro,
teve toda sua produção feita por Dudu Marote e com scratchs do DJ Ninja. Na fase de criação, MC Jack mostrava as letras
para Ninja e Naja, e na casa do DJ escolhiam um beat que se encaixava com a ideia e depois no estúdio tudo era lapidado por Marote.
"Pessoas subindo e
descendo essa rua
pensativas e sem rumoa procura de aventuramoços, velhos, pessoas de idade vejo tudo isso no Centro da Cidadeplaquinha de empregoplaquinha compra ouroplaquinha compra prata plaquinha de almoçopessoas mal vestidas formando a raléboy mal informado onde é a Praça da Sé?onde está a bolinha? um jogo de azar por incrível que pareça você nunca vai ganhar"
Fechando o lado A do disco temos a música d'O Credo, com a música que leva o nome do grupo "O Credo", formado por DJ Uzi, MC Who? e DJ King T, a letra aborda sobre a dualidade entre o ceticismo e o
fato de acreditar em tudo que é imposto. Uma música filosófica e que apesar de
ter 30 anos de idade se mantém atual, no ano 2018 contaminado pelas fake news. O som contém sample do pai do hip hop, Afrika Bambaataa, com o clássico “Planet Rock”, num beat insano e elétrico com grave do baixo e riffs de guitarras que dão peso ao refrão com referência de
Bambaataa e Soul Sonic Force (“Party people
/ Party people“).
"(Você vai)
Crer que há o que não se
pode verCrer que existe algo que não se pode terConfiança naquilo que você pode lerO que importa essas palavras? Você vai entender
Eu te farei crer numa única verdadeVendarei seus olhos pra sua realidadeTe farei acreditar na evolução dessa idadeSe traduz com o poder de levantar a cidade"
Eu te farei crer numa única verdadeVendarei seus olhos pra sua realidadeTe farei acreditar na evolução dessa idadeSe traduz com o poder de levantar a cidade"
O Credo abre o lado B do disco com a música "Deus da Visão Cega", nessa faixa o scratch é mais sutil, enquanto que a
guitarra ganha um peso maior nos momentos introdutórios, incidentais ou no
refrão não cantado. Acompanhando o flow
vem um baixo marcante e suingando, trazendo groove
que se mescla com o discreto arranhão nos discos.
"Eu viro meus ouvidos ouvindo seus berros
Que festejam e celebram seus erros redundantes
Erros esses que corrijo a ferro
Coisa que eu já deveria ter feito antes
Mas logo vejo que de erros se foge
Como foge louco da realidade de hoje
Fujo daqui com habilidade
Saltando o seu nível de banalidade
E acenando han han han com ironia
Para sua falsa face de alegria"
Thaide & DJ Hum retornam com a música "Homens da Lei", a letra é o primeiro rap que alerta sobre os abusos e a
violência policial, numa época em que as primeiras letras de rap no Brasil eram mais festivas e
ingênuas. A dupla sofreu perseguições por parte de policiais devido à essa música, como o episódio que rolou em Poá, onde policiais
militares, em folga, fazendo bico de segurança na casa de shows, e eram
conhecidos como “pé-de-pato”, eram justiceiros, remanescentes do regime militar, intimaram Thaide, e em outra ocasião algemaram DJ Hum, querendo tirar satisfação.
"Para o povo de São Paulo, de Osasco e ABC
A polícia paulistana chegou para protegerPolicial é
marginal e essa a lei do cão
A polícia mata o povo e não vai para prisão
São homens da lei, reis da zona sul
Vestidos bonitinhos no seu traje azul
Somem pessoas, onde enfiam eu não sei
E não podemos dizer nada, pois não somos da lei
Oh meu Deus! Quando vão notar
Que dar segurança não é apavorar"
A segunda faixa do Código 13, é "Gritos do Silêncio" foi uma das mais orgânicas do disco, esse fato
era de se supor pelo fato dos caras se apresentarem como banda, e teve participação do
Madzoo propositalmente pensada para o disco Hip Hop Cultura de Rua. A letra é um grito de
protesto sobre o inconformismo da sociedade sobre vários problemas sociais,
como as drogas, manipulação da TV para o consumismo, falta de amor e falsidade:
"O sistema é imprevisívelLeva a humanidade a um fim difícilO poder, uma mera brincadeiraQue corrompe e destrói, por isso é besteiraAs ruas da cidade, sujas e imundasMatam as pessoas como AKs profundasAs pessoas vivem pelas drogasRefúgio das fraquezas que por elas foi impostaIsso está crescendo sem medidasA cidade é um câncer, um alívio, uma feridaA TV, puro consumismoNesse mundo de ilusões do capitalismoGritos! Gritos do silêncioDe povos massacrados sem um alentoPássaro, preso na gaiolaCanta uma canção sem ver o mundo lá fora"
Fechando o disco temos MC Jack, com "Calafrio (Melô do Terror)", a letra de Calafrio
fala sobre determinadas pessoas que se julgam valentes, mas têm um
posicionamento covarde quando o assunto é o sobrenatural. Para o
instrumental, o álbum escolhido foi o Hip Hop Phenomenal instrumental, gravado
pela Zakia Records em 1987, do grupo Jaybok The
City Ace e com scratchs do DJ Doc, a
música usada foi a de número dois “Hip Hop Phenomenal” e contou ainda com sample do ator Vincent Price, no clipe Triller do Michael Jacksom, com a tenebrosa gargalhada.
"O terror está chegando em
nova dimensão
Essa voz misteriosa vem do fundo de um caixãoA ciência humana não soube explicarComo sobrenaturais podem conversarDesafio aquele que se julga valentãoSe tranque no castelo e durma no porãoAquele valentão deu risada e correuPensava ser esperto e no fim apodreceuVocê não vai fugir do terror do calafrioSe tentar me enganar vai boiar ali no rioMinha presa afiada no teu corpo vai rasgarO teu sangue escorrendo e eu te matando devagar"
O título de primeiro LP de Hip
Hop do país gera polemica, mas o álbum leva essa alcunha devido a juntar os
quatro elementos da cultura, já que os integrantes dos grupos, além de MC’s e
DJ’s, também eram grafiteiros e b.boys. A coletânea conseguiu reunir as
principais crews de hip hop de São Paulo, a Back Spin, Crazy Crew, Nação Zulu e
Street Warriors, que rivalizam na estação São Bento, nas rodas de break.
O disco Hip Hop Cultura de Rua
assume uma importância para o rap nacional não só pelo fato de ser o primeiro
LP, ou por fazer parte da fase inicial, mas por mostrar um amadurecimento em
termos de letras e produção. Os primeiros raps feitos no Brasil eram ingênuos e
festivos, não tinham o discurso contundente de protesto e denúncia, como ficou
caracterizado nos anos 90. A partir do Hip Hop Cultura de Rua, com letras como “Homens
da Lei”, que falava sobre repressão policial, que inclusive gerou problemas
para & Dj Hum, ou “Corpo Fechado”, também da dupla, e “Gritos do Silêncio”,
do Código 13, que falavam sobre afirmação de jovens periféricos. Assim como O
Credo e MC Jack abordavam comportamento, filosofia e sociedade, mostrando a
cara daquela geração, que não só gostavam de bailes e festas, mas também demonstravam
preocupações com questões sociais.
nossa história.
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