O processo de composição de uma obra no campo da
cultura artística, mais do que tudo, envolve inspirações externas nas ideias
do(a) autor(a). Indo desde um detalhe minimalista como os fragmentos de um
dente-de-leão após um sopro até uma impressão mais rústica como a de uma
tortura em pau-de-arara. No mais recente
trabalho de Irmão Amaro não é diferente.
Lançado no dia 1º de março deste ano, no formato e
intitulado de Mixtape, teve como objetivo ser o cartão de visita do rapper e
apresentá-lo de forma mais rápida para cena atual e para o movimento. Foi
idealizado depois de perceber a necessidade de formar seu repertório e de
resgatar algumas composições feitas desde 2016. Mesmo sendo quase que um
apanhado de gravações em estúdio, a Mixtape tenta manter um conceito voltado
para o universo da periferia, junto a veia de protesto originária do Hip-Hop.
O conjunto de dez músicas traz como questão central as
vivências na periferia como barreiras sociais, dependência química, opressão
policial, rolês na quebrada, empoderamento e outras; e críticas ao descaso do
Estado, sistema político, tratamento arbitrário dos órgãos da segurança
pública, construções sociais preconceituosas etc. Letras como “Barraco, Mato e
Córrego” e “Front das Trincheiras” fazem parte do resgate das composições de
2016 (a segunda tendo que ser reescrita por motivo de datação histórica). As
restantes foram escritas já no segundo semestre de 2018. Irmão Amaro teve como
suas influências nos momentos de composição nomes como MV Bill, ADL, Racionais
MCs, Eduardo Taddeo, Trilha Sonora do Gueto e Facção Central; mesclando entre
os relatos de dificuldades, protestos e descontrações. Nelas, não tiveram
nenhuma participação, foram todas escritas pelo rapper.
Em seus beats, tiveram diversas parcerias com
beatmakers da Região Sudeste do Brasil. ZZZ Beats, DJ Lu, FBnoBEAT, Jobam
Martins e Polar Beats, todos do estado de São Paulo; MNC, de Minas Gerais e
Nativ 4.5.0, do Rio de Janeiro. Como forma de conciliar a nova tendência da
cena com o tradicional, Boombap Trap e outros estilos rítmicos estão presentes
no trabalho.
No processo de gravação, houveram participações de 3
produtores e uma intérprete. As faixas 2, 3, 6, 8, 9 e 10 foram gravadas,
mixadas e masterizadas por Jobam Martins, em seu estúdio. Já as faixas 4, 5 e 7
ficaram por conta de Simon “Holandês” DeBruijn, do Estúdio Sótão. E por último,
David Maderit, da Fábrica de Cultura Brasilândia, operou os áudios na faixa de
abertura da Mixtape. Na única participação especial, a cantora Nikka marca
presença fazendo os refrões e melismas da música “Densa Realidade”.
Na arte gráfica, Luiz Clete, do projeto Debluz, expressou
de forma conceitual a questão do “apanhado”. Tradicionalmente, o formato de
mixtape no Hip-Hop é algo que traz os primeiros registros, a estreia do
MC/grupo, que começou sendo gravado em fita cassete. Pegando essas referências,
a ideia da capa é transmitir esse lado estreante do atual momento de Irmão
Amaro.
Em sumo, este trabalho tem como suas expectativas
alcançar e ter relevância para um maior número de pessoas possíveis, desde
favelados a abastados; poder representar de forma legítima toda comunidade
pobre de São Paulo e do Brasil inteiro; de alguma forma, mudar a perspectiva de
vida na periferia; e trazer oportunidades para transmitir estas mensagens e
colher frutos deste trabalho.
Confira trampo no YouTube:
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