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Black Alien Sem Dá Pala - Que Nem O Meu Cachoro

Jeff Ferreira
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Black Alien dispensa apresentações, um dos mais geniais MC's, sempre se destacando por sua lírica e flow, e agora finaliza os detalhes para o lançamento de seu terceiro álbum solo, o Abaixo de Zero: Hello Hell. Preparando terreno o Mr. Niterói lança a música, acompanhada de vídeo clipe, "Que Nem o Meu Cachorro", dando continuidade a sua história, não só como artista, mas também de homem sóbrio.

A música tem produção de Papatinho, do Papatunes Studios, enquanto que o clipe foi dirigido por Premier King e, como uma forma de exorcizar os fantasmas, foi rodado em uma das clínicas de reabilitação que Black Alien ficou internado para tratar a dependência química. A direção de arte ficou por conta do rapper e produtor Parteum, que somou com Gustavo no disco anterior, dividindo com Kamau e Black a faixa “Skate no Pé”.

Nessa letra, Black Alien relembra seu passado, mas traz o foco para o seu presente, mostrando que mudou seus vícios para hábitos mais saudáveis, “O cochilo da tarde é meu xodó do momento”, mas se mostra vigilante, pois as armadilhas e recaídas estão em ronda, “Nem quica, a vida é tombo em pista de cimento”.

A Lirica Bereta desabafa e revela como parte da cena reage a sua presença: “Black Alien já vai tarde, já passou o seu momento!”, mas lançamentos como esse ou mesmo o álbum Babylon By Gus Volume 2 – No Principio Era o Verbo, que mantém Gustavo no game como um dos mais relevantes, mesmo que seus recentes trabalhos não ganhe o público geral e atinja o status de clássico, como o volume 1, O Ano do Macaco, pois é como versa: “Se vem baseado no passado, só há um resultado: Cê vai se foder, porque eu sou o agora, eu sou o agora”.

Para esse pensamento o rapper manda: “Me preocupa é o celular que vibra ao lado do meu saco, o resto todo que dá câncer eu já vou lançar no vácuo”, se afastando das pessoas tóxicas e assuntos prejudiciais ao humor e sanidade mental, como a opinião de haters, mantendo apenas o celular para seus negócios, mesmo que ferramenta seja nociva, e sustentando a preocupação com seu uso e irradiação. Interessante que a linha usada aqui tem a lógica similar a uma utilizada pelo saudoso Speed, seu antigo parceiro, que rimava “Meu câncer alcancei causado por celulares Motorola”, com o sentido do “mal necessário”, enquanto que pessoas não se tem a mesma necessidade de mantê-las quando essas são tóxicas, cancerígenas, prejudiciais, assim Speed conclui “Eu entro assim, sempre de sola, nas suas bolas”.

Mr Black continua seu passeio pelo verso e não deixa impune a hipocrisia: “Come e cospe no prato, depois vem dizer ‘Jah bless’”. A tradução cabe famigerado cidadão de bem e todo moralismo cristão, que se rechaça de ódio e depois usa o nome de Deus como uma forma de justificar seus atos e pensamentos. Trazendo para o verso da música, Black Alien passou por um perrengue que ninguém narrou, que foi sua internação, somente ele sabe o que enfrentou, e sem ter essa empatia muitos acham “bem feito” e o drogado que se foda, e depois bradam por aí “Deus abençoe”, enquanto brinda com champanhe, tequila e cerveja. Para isso Gustavo vira as costas, decreta a morte desse pensamento e volta ao seu encontro com John Coltrane, Charles Mingus e Miles Davis: “Pela-sacos, aqui, jaz; Black Alien, aqui, jazz” e encerra sua opinião sobre esses canalhas: “Vagabundo fala um monte, são pregos pro meu martelo”.

Gustavo de Almeida Ribeiro, o cidadão honorário, também enfatiza que “Nem de longe eu virei monge, apenas parei de dar pala”, o afastamento de hábitos prejudiciais e a priorização de atitudes que lhe fazem bem não o tornaram um cusão, nem um santo, apenas mantém Black Alien no seu foco, sem da pala, igualzinho ao seu cachorro!

As distrações que o cotidiano oferecem, e que podem comprometer a tarefa de se manter sóbrio, são (com muito esforço) escanteadas, o perfume do passado vem a tona, mas é só: “Brooklyn, Nova York, SoHo, tô que nem cachorro, suando só no focinho”, e o custo é alto, ai entre a meditação de um monge, mesmo sem ser um, o autocontrole e toda e qualquer técnica e tática que Gustavo desenvolveu ou aprendeu na clinica que ficou em revivificação: “Só não vem facim, senão qualquer um desenvolvia, é tempo de templo, só rato cinza na via”.

Black Alien teve criação da zona sul carioca “Criado no Ingá”, e nem por isso (ou talvez por isso) não evitou seu contato com a química, a luta para sair do vicio, assunto tão pessoal, e que o êxito parecia inalcançável: “Chapado demais pra um dia me vingar”, mas que na fé dele para consigo mesmo, “Zu-guzung-Gu-zen” o vez dar a volta por cima, e independente de onde venha o que lhe prejudica, já é capaz de pacificamente se vingar: “Rio de Janeiro, Niterói, favela, morro, tô que nem o meu cachorro, no domínio do latim”.

Outro ponto que o MC destaca é sobre sua necessidade de estar no rap, o que o mantem vivo: “Minha diversão de homem, alegria de menino que produz o que consome, todos temos nossos hinos, pronuncia o meu nome, sinônimo: “genuíno’”, ao passo que traça um paralelo sobre as facilidades do cotidiano e abertura do rap para outras classes sociais: “Num mundo que produz prodígios bizarros, que produzem seus discos, dirigem os seus carros”. E finaliza a oreiada em verso que diz sobre sua caminhada, de sempre buscar elevar o nível, sem se preocupar com o que vão achar de suas rimas e raciocínio, e assim dá o pito “Então, parou com a zona!”, logo depois de versar:  “E nós somos a canção que vem da zona de conflito, pois a zona de conflito é minha zona de conforto, e a estrada pro inferno se desce de ponto-morto”.


Mestre Black recicla uma ideia do Ano do Macaco, em “Primeiro de Dezembro” versava que “Dinheiro que vem fácil não é fruto de trabalho”, mais de uma década depois e o rapper mostra que seu escudo é o trabalho árduo, “O que vem facim presta, não, se envolvia, do sol da meia-noite até o sol do meio-dia”, e isso não o fez nem melhor, nem pior, como também versou em “Caminhos do Destino”, também do volume 1, e que nessa canção assumiu outra lírica para a mesma mensagem: “Nem tão longe pra tu chegar aqui de mala, nem de longe é tão perto que pode vir de chinelo”.

Que Nem o Meu Cachorro” é a sensibilidade trazida pelos demônios internos e musicada por um dos maiores nomes do país, e aqueles que não concordam “Não tem como funcionar, vai sempre dar ruim pra você, bocas mexem — blá-blá-blá”, Black Alien se mostra passível de qualquer critica, mas tem genialidade para que qualquer critico se renda a algum ponto de sua história de superação: “E eu só faço o que tenho que fazer, não tô nem aí, nem lá. Tô bem aqui, além do que se vê”.

O disco Abaixo de Zero: Hello Hell”, chega em abril nas plataformas digitais, através da distribuidora Altafonte.

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