Salve! O Submundo do Som trocou uma ideia com um dos maiores ícones da periferia, o escritor, diretor, agitador cultural e repórter Alessandro Buzo. Nesse papo Buzo fala sobre sua trajetória, seus projetos realizados, sonhos e as novidades que estão por vir. Se liga:
Submundo do Som - Satisfação total por esse bate papo mano, e seguindo o protocolo, por favor, se apresente pra nós, quem é o Alessandro Buzo?
Buzo: Meu nome é Alessandro Buzo, 46 anos, nascido e criado na zona leste, Itaim Paulista, virei escritor falando dos trens da Z/L que pegava desde 1985, quando comecei a trabalhar no centro com 13 anos, lancei meu primeiro livro em 2000 e naquele tempo não era comum um periférico publicar, isso acabou transformando minha vida, a cultura me abriu portas e me levou a muitos lugares, momentos e conquistas. Só não fiquei rico.
Submundo do Som - Falando do Buzo escritor, foram 14 livros né? Qual o retrospecto que você faz dessa trajetória na literatura?
Buzo: Acho até surpreendente, quando lancei meu primeiro livro jamais imaginava lançar tantos livros, fico feliz quando dizem que sou importante na trajetória da Literatura marginal, fico mais feliz ainda quando um leitor comenta que leu um livro meu, isso é que paga todo esforço. Pretendo lançar mais dois livros em 2019, meu primeiro só de poesia, se chama "É Tipo.. Poesia" e um contando a trajetória, biografia de um ex-jogador, se chama "Hélio Carrasco - Vida de Ex-Jogador Profissional", imagino daqui 50 anos, meus livros espalhados pelo país.
Submundo do Som - Queria que você falasse um pouquinho do livro “Del Cuento a la Poesia”, que é a tradução para o espanhol do livro de 2011. Como surgiu essa ideia e como são as conexões de Alessandro Buzo pela América Latina?
Buzo: É a tradução de "Do Conto à Poesia", um livro de 2008, foi lançado em 2011 por uma editora artesanal (cartonera, capa de papelão) em Buenos Aires, a editora fica em La Boca, atrás do La Bombonera, eu e o Binho do Sarau do Binho lançamos lá, com direito a lançamento em La Boca e na Feira do Livro de Buenos Aires, a tradução foi da amiga argentina Lucia Teninna. Como não tinha mais exemplares, lancei eu mesmo, pela Suburbano Convicto Edições em 2018, o mesmo “Del Cuento a la Poesia”.
Viajei muito pelo Brasil, conheço vários estados, mas até hoje não sou um cara tão internacional assim, só estive em três ocasiões na Argentina. Mas já lancei em coletânea na França, Chile, etc, mas não fui até esses países, só meus textos.
Ainda tenho 46 anos e pretendo viajar pelo mundo, quando estiver num momento melhor de grana.
Submundo do Som - A literatura e o Hip Hop caminham juntos como uma forma de propagação da cultura, e na sua bibliografia há muitos temas relacionados ao movimento, como você vê essa relação?
Buzo: Pra mim a Literatura Marginal e o cinema da periferia são o quinto elemento, conhecimento.
Tem pessoas que aceitam, pensam como eu e outros não, mas sinceramente eu acho. Eu tive total influência do Rap no meu início de carreira como escritor, o Rap me politizou, me deu alto estima de ser da periferia e pra mim o Hip Hop é vida, larguei as drogas por causa do meu casamento com a Marilda Borges em 1998, a literatura e o Hip Hop.
Submundo do Som - Buzo, você também é responsável por diversas coletâneas, o que dá a oportunidade para diversos autores sem condições publicarem seus trabalhos. Comente um pouco sobre essas iniciativas ?
Buzo: Primeiro foi a coletânea "Pelas Periferias do Brasil" que nasceu numa época que os autores periféricos era tudo de São Paulo e alguns do Rio, faltava representantes de outros estados, por isso nasceu a coletânea, o vol. 1 teve apoio da Ação Educativa, já publiquei 7 volumes, com mais de 100 autores.
Depois venho o Poetas do Sarau Suburbano, com poetas do meu sarau, estamos preparando o vol. 6.
Além dos meus 14 livros, organizei outros 12, são 26 livros em 19 anos.
Submundo do Som - Queria que você explicasse um pouco o que é o livro “O Trem – Contestando a Versão Oficial”, qual é o objetivo dessa obra?
Buzo: Meu primeiro livro em 2000 foi "O Trem - Baseado em Fatos Reais", a ideia era protestar contra o péssimo serviço oferecido pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), depois venho em 2004 "Suburbano Convicto - O Cotidiano do Itaim Paulista", em 2005 reescrevi O TREM, um outro livro, mais contestador que o primeiro, meu terceiro livro é "O Trem - Contestando a Versão Oficial", a versão oficial era que os trens tinha ar condicionado e música ambiente, quis contestar isso e mostrar a realidade do povo que é usuário e sofre com tantos perrengues, como até hoje, superlotação e outros problemas.
Submundo do Som - Ao longo de sua caminhada literária, você trabalhou com diversas editoras, e acho que o mais difícil para quem quer lançar um livro seja essas questões editoriais. Quais os maiores desafios que você vê para se lançar e distribuir um livro no Brasil?
Buzo: Se o livro é independente o principal problema é o custo, mas isso se você tem como corrigir, diagramar, que vem antes de imprimir, e escrever é claro. O maior problema é a distribuição, livros independentes não chegam nas livrarias e isso atrapalha, você tem que fazer o marketing, ser vendedor e autor. Mas como hoje se tem uma cena, vários saraus e slams, fica mais fácil, em 2000 eu lancei e não sabia o que fazer com os 500 livros, pra onde ir, pra quem vender.
Submundo do Som - Temos também o Alessandro Buzo repórter, com quadros no Manos e Minas e no SPTV, além de vários outros projetos, como é estar na TV e representar a periferia?
Buzo: Uma grande responsabilidade, foram 3 anos no Manos e Minas, de 2008 à 2011 e outros três no SPTV, de 2011 à 2014, só no SPTV foram 147 quadros exibidos, me orgulho do conteúdo que apresentei na TV, nunca me senti um global e sabia que tinha prazo de validade, mas confesso que 3 anos foi muito tempo, numa emissora líder de audiência, mas tinha e tenho bala na agulha pra mais, só não pintou ainda a oportunidade.
A bacana é que quem era da periferia se sentia representado e quem não era curtia saber que tem tanta coisa boa rolando, todo mundo gostava. Valeu a pena.
Submundo do Som - Da sua experiência como reporte qual foi a matéria que você mais curtiu em fazer, e o por que?
Buzo: Foram várias, o Tênis no Parque no Capão Redondo, porque depois o Luciano Huck reformou a quadra e levou os meninos pra conhecer o Roger Federer, tenista suíço recordista de títulos do Grand Slam, o Tributo ao Sabotage, o projeto do Dexter na Penitenciaria, o Sarau da Ocupa numa ocupação no centro, o evento Moinho Vive na Favela do Moinho entre outros, o CD solo do Edi Rock, primeira vez que ele meteu a cara na Globo foi comigo, máximo respeito por ele e pela confiança, gostei de 2 quadros com o Emicida, quando mostrei ele no bairro Cachoeira, extremo norte onde nasceu e quando lançou um clipe numa ocupação, onde ele havia gravado, Ocupação Mauá na Luz. Entre outros.
Submundo do Som - Falemos agora do Alessandro Buzo diretor de cinema. São dois filmes lançados, “O Profissão MC”, com o Criolo, e o “Fui!”, como que se despertou esse lado cineasta em você?
Buzo: Eu dirigia cada quadro meu na TV, produzia e dirigia, além de apresentar, então estava próximo do áudio visual e surgiu a vontade de fazer filmes, sempre fui viciado em cinema, cinéfilo que fala, quando eu era Office Boy nos anos 80, os boy matava trampo pra ir pro fliperama e eu ia pro cinema, conheci "todos" da região central de São Paulo, maioria com o passar dos anos fecharam as portas. Detalhe, sempre gostei de cinema nacional, eram poucos filmes por anos naquela época e alguns não tão bons, mas eu gostava, um que gostei muito foi "Um Trem Para As Estrelas" do hoje meu amigo Cacá Diegues, o cinema brasileiro ganhou outro patamar após o sucesso de "Carandiru" e "Cidade de Deus", quero fazer muitos filmes e até vídeos clipes, futuro a Deus pertence. Tenho um projeto de um curta filmado também no Litoral Norte, onde moro hoje e filmei o Fui !, meu segundo filme, quero voltar a correr atrás de dinheiro pra viabilizar o Profissão Mc 2 com o Dexter, participação do Emicida, cena já gravada e do Wanderson, filho do Sabotage.
Submundo do Som - O filme “Fui!” ainda não tive a oportunidade ver, o “Profissão MC” assisti e curti muito. Assistindo o trailer de “Fui!” percebemos que tem uma produção com nível maior, acredito que tenha envolvido maior investimento, como que foi a execução desse longa?
Buzo: Assim como o Profissão Mc, fiz sem captar nenhum dinheiro, os apoios que tive foram locais, algum dinheiro pras despesas de momento, restaurantes que deram almoço pra equipe e coisas assim, nunca fiz um filme com dinheiro, mas pretendo um dia fazer.
Mesmo sem dinheiro, foi mais produzido que o primeiro, porque eu era bem mais experiente e com meus contatos, montei uma equipe de 10 pessoas, três câmeras, drone, mesmo sem dinheiro, quando não se tem verba, precisa usar sua credibilidade e isso graças a Deus tenho um pouco.
Submundo do Som - Como é o processo, desde nascer a ideia, elaboração de roteiro, captação de recursos, escolha de elenco, filmagem e produção? Quais os sentimentos, dificuldades e alegrias, para se colocar um filme na rua?
Buzo: É como montar um quebra cabeça de mil peças, meus dois filmes foram feitos sem um roteiro tradicional, só tinha o argumento e vou passando pros atores cena a cena, o elenco eu procuro definir a base dos protagonistas e ai vou chamando pessoas próximas, que estão ali no momento, foi assim nos dois filmes. As dificuldades são muitas, não é fácil 10 pessoas juntas por 4 meses, com a limitação de não ter grana a alegria é ver que deu certo, que conseguimos finalizar as filmagens, mas dificuldade mesmo é depois disso, edição, finalização e distribuição.
Submundo do Som - E tem um terceiro filme a caminho, o “Profissão MC 2”? O que você pode adiantar desse que está por vir?
Buzo: É a história do Leon (Dexter), que preso, promete ao filho (Wanderson), que quando saísse faria um evento na quebrada e perguntou quem ele queria de atração, o filho pede o Emicida, essa cena já foi gravada lá atrás num evento Favela Toma Conta no CDHU Itaim Pta, o Emicida aparece como ele mesmo. Avaliamos o custo em 80 mil reais, mas nunca conseguimos essa grana, a uns 2, 3 anos, parei de correr atrás, mas agora tô desengavetando essa ideia, apesar de ter o Dexter como protagonista, cantando rap após sair da cadeia, não é a história dele, como meus outros filmes, é 100% ficção. Aguardem e torçam pelo projeto.
Submundo do Som - Temos também o Buzo palmeirense, e vem livro sobre esse amor pelo Palmeiras né? Sei que outro palestrino ilustre está envolvido, o Mauro Beting, o que poder dito sobre esse projeto?
Buzo: Defini os 10 autores do livro "Torcida Que Canta e Vibra", cada um deles, entre eles eu, irá escrever duas crônicas sobre seu amor pelo Palmeiras, um jogo, um rolê, um título. Agora estamos no momento de aguardar os textos, só três autores já enviaram, não tem editora, quando o conteúdo estiver pronto, vamos juntos correr atrás, convidei o Mauro Beting que aceitou de bate pronto, espero lançar no começo do segundo semestre desse ano.
Submundo do Som - Buzo, você pegou a fase “braba” do palmeiras, rebaixamentos e tudo mais, agora a fase é outra, com patrocínio forte, brigando por títulos e conquistando canecos, e com isso aparecem os aproveitadores né, tipo esse que está aí no comando do Brasil. Como Alessandro Buzo vê a relação futebol x politica?
Buzo: Não foi fácil ser torcedor do Palmeiras até 1993, o último título havia sido em 1976 e eu só tinha 4 anos, era tanto azar, times fracos, percas inexplicáveis que achava que não acabaria nunca, mas acabou em 12 de Junho de 93 em grande estilo, em cima do maior rival. Depois vieram Brasileiros, Libertadores 99 etc. Estava no estádio no dia da festa do Deca quando o Bolsonaro foi até lá, me senti mal e não fiquei na festa até o final, não foi justo com quem não votou nele, pra quem é mais politizado e de esquerda como eu, acho que não deve misturar, porque o político só vai até o esporte pra sugar, não traz nada de bom, não é porque gosto do LULA que ficaria feliz se ele fosse palmeirense, acho que nenhum clube deve se vincular a nenhum político de nenhum partido, ainda mais um facista como o Bolsonaro, pra mim foi uma passagem vergonhosa da nossa história.
Submundo do Som - E a livraria Suburbano Convicto, como que funciona?
Buzo: Ela nasceu em 2007 no Itaim Paulista, iria falir em 2010 quando surgiu a chance de levar ela pro Bixiga, região central, acreditei que no centro, seria mais fácil de atingir o público de várias periferias, ela já abriu de segunda a sexta, mas hoje é só em dias de eventos, um deles é o Sarau Suburbano que já foi semanal, mas hoje é mensal. Estou com dificuldades em manter o espaço, tem o aluguel e outras despesas, em 14 de Abril de 2019, completa 12 anos, mas não sei até quando foi conseguir manter as portas abertas da casa da literatura marginal.
Submundo do Som - Buzo, fala pra nós, o que você curte ouvir de música e que pode indicar aí para os manos?
Buzo: Eu gosto de muita coisa, de vários estilos musicais, mas o que gosto mesmo é de rap nacional, nunca dei muita bola pros gringo, gosto de rap, principalmente da época que era mais de protesto, os grupos das antigas. Mas confesso que não ouço tanta música assim.
Submundo do Som - Escritores, diretores e jornalistas, quais são os preferidos do Buzo, ou quais você pode citar pra rapaziada se ligar no trabalho deles?
Buzo: Escritores gosto do João Antonio da velha guarda, admiro a Carolina Maria de Jesus por ser a mãe da Literatura Marginal, gosto dos livros do Caco Barcellos pela coragem de escreve-los, gosto do Ferréz, Paulo Lins entre outros, das escritoras gosto do livro da Jenyffer Nascimento entre outras.
No cinema sou fã do Cacá Diegues, meu guru é o Toni Nogueira, fizemos juntos o Profissão Mc e gosto do Fernando Meirelles e do Cidade de Deus, puta filme, Cao Hamburger, Tata Amaral entre outros. Jornalista admiro a Eliane Brum, André Caramante e outros que lutam do lado dos mais carentes.
Submundo do Som - Quais os sonhos que Alessandro Buzo tem?
Buzo: Um dos meus sonhos é viajar pelo mundo, conquistar um futuro mais tranquilo, alguma renda que me permita seguir morando no Litoral Norte, priorizando a qualidade de vida, meu maior sonho já foi ter uma casa própria, graças ao SPTV consegui realizar, quis Deus que fosse na praia, obra do destino. Seguir fazendo livros e filmes.
Submundo do Som - Pra quem acompanhou esse bate papo, que mensagem você deixa?
Buzo: O Brasil vive um momento complicado, esquerda e direita se ofendendo e brigando como torcida organizada, a mensagem que deixo é que só vamos transformar o Brasil num país mais justo, quando o povo se unir e derrubar todos os corruptos, independente de partidos.
Submundo do Som - Buzo, pra quem quiser acompanhar seu trabalho mais de perto, trocar uma ideia, adquirir livros, conhecer a livraria, assistir os filmes, como faz? Deixe ai seus canais de comunicação e muito obrigado pelo papo!
Buzo: Pra me contratar pra palestras, curadorias, exibições dos filmes, é com a Suburbano Convicto Produções (11) 98218-7512, ou no email: suburbanoconvicto@hotmail.com BLOG: www.buzo10.blogspot.com AGENDA: www.agendabuzo.blogspot.com SARAU SUBURBANO: www.sarausuburbano.blogspot.com Filme: Fui ! www.filmefui.blogspot.com LIVRARIA: www.livrariasuburbanoconvicto.blogspot.com CANAL: www.youtube.com.br/alessandrobuzo
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