Já se passaram 13 anos desde que os caras do Charlie Brown lançaram seu quinto o disco, o bem sucedido Bocas Ordinárias, seguindo a pegado do disco anterior, 100% Charlie Brown Jr – Abalando sua Fabrica, o disco ficou mais rock n’ roll, com direito a regravação de Legião Urbana! O nome do álbum vem de uma turnê que fizeram em Portugal, a presença de palco e energia de Chorão que em meio as músicas explosivas soltava alguns (muitos) palavrões, e a imprensa local apelidou a banda com o termo.
Particularmente esse é um disco que curto pra caralho, ele contém poucas músicas, 12 faixas, o que é mais fácil para o cd dar loop no radinho e ecoar várias vezes o mesmo som. Esse álbum ai também foi um dos primeiros que comprei com fruto do meu trabalho, juntei uma graninha pra poder pegar o cd na loja (mesmo sem ter onde tocar em casa, haha!).
O disco abre com a música de trabalho Papo Reto (Prazer é sexo, o resto é negócio), que explodiu nas rádios brasileiras em 2002, como um forte hino: “Você falou pra ela que eu sou louco e canto mal, e que eu não presto e sou um marginal, que eu não tenho educação, que eu só falo palavrão e pra socialite eu não tenho vocação, sei que isso tudo é verdade, mas eu quero que se foda essa porra de sociedade, pago minhas contas, sou limpinho, não sou como você filho da puta, viadinho!”. O Clipe dessa música vale a pena ver, a banda toda num visual anos 70, tocando num bar de quinta, quando de repente sai uma treta e voa taco de sinuca pra todo lado.
A segunda faixa Hoje eu só Procuro a Minha Paz, num misto de poema de amor e loucura marginal com rifs de guitarra e batera mandando brasa, só não vale correr: “Eu sei que a vida é louca e é difícil acreditar, mas o mundo é das pessoas que mandam em seus sentimentos, o mundo é das pessoas que sonham e o meu sonho é você”. Em seguida o Charlie Brown Jr interpreta a Legião Urbana, em performance completa da banda, principalmente Chorão, o caras mandam um Baader-Meinhof Blues do Renato Russo: “A violência é tão fascinante e nossa vida é tão normal, você passa dia e noite e sempre vê apartamentos acessos...”
Na quarta música, outro hit que ecoou na rádios, novelas e o caraio, Só por uma Noite, com clipe hilário, apesar do tema da música ser em outra vibe, a banda de terno e gravata em um fundo branco, já nos primeiros acordes, o diretor do clipe (Paulo Miklos), pede pra parar, diz que falta elegância no clipe e que não é era esse o combinado, Chorão argumenta: “Não dá pra fugir do que somos!”. Destaque para o trecho em Miklos dá uma dura no Champignon : “Chantibon, Chantili, Chapolin, não é pra ficar pulando feito louco, não é baile de carnaval!”, e a música decorre: “Fim de semana, eu sei lá, vou viajar, vou me embalar, vou dar uma festa, eu vou tocar um puteiro, eu vou te esquecer, nem que for, só por uma noite”.
Na quinta, o grupo vai de hardcore dos anos 90, numa homenagem para todos os skatistas My Mini Ramp é também uma declaração de amor: “I love my mini ramp, stay away from my mini ramp, stay way from my mini ramp”. Na sexta, o Charlie Brown Jr mandam o som que intitula o álbum, Bocas Ordinárias Guerrilha, o rock explode em “Cria de rua sagaz, não se deixa controlar, arredio, pronto pra voar, Quem é real sabe o que faz e pode até te ensinar”. Não Fure os Olhos da Verdade é a sétima música, também em nível hard, com solos de guita, a dica é: “Tipo assim out side, Tipo assim meio pop, eu to cagando pra essa porra de ibope” e ainda: “Ser punk não é isso, é muito mais que isso, ser punk é ter atitude, quem é punk sabe disso, o rap não é viajem o rap é compromisso. Se liga na missão”, em meio aos gritos Viva o Rock n’ Roll!!!
Na faixa oito, o bang segue com Sou Quem eu Sou (O Que é seu Também é Meu e o Que é Meu Não é Nosso), que deixa bem claro: “Se o que mais me satisfaz, é ser quem eu sou, se você ficou pra trás, eu sou quem eu sou”, em uma das mais “tranquilas” do disco. Somos poucos mas somos muito loucos é a minha favorita desse álbum, numa pegada que mistura rap e rock, homenagem a músicos e denuncia social:
“Pra mim uma rima louca é tipo pá aprendizado
Que muda todo o quadro e deixa os mano ligado
Que a vida cobra muito sério
Você não vai fugir
Não pode se esconder e não deve se iludir
Toca na ferida tipo rap nacional
Como fez o Mano Brown, revolução mental
O barato vai batendo no estéreo do meu carro
Quando tá rolando rap, eu só escuto, eu não falo
Eu sou um cara branco, eu admiro a negritude
Mikimba, sabotagem, nego aplique então, Tarobinha, Rapin´n Hood
O que vale é a atitude, atitude é o que não falta
Aê... Sujô, são eles!
(Você se lembra)
Não é escolta
Hoje eu só procuro a minha paz
Hoje eu só procuro a minha paz
O porta-voz tem que te informar
O porta-voz tem que te acrescentar
Se não vacilou, vacilou, vacilou, vacilou
Porque qualquer laia, não dá não
Me diga no ragga muffin vamos fala a verdade
Me diga no ragga muffin vamos então fala a verdade
Chorão e Champignon, mas que responsabilidade
Pelado na batera e Marcão na guitarra
Deixa nego na poeira
Deixa nego na saudade, na saudade”
O Disco segue para a canção Com a Boca Amargando, onde Chorão segue o ritual de sempre, num pegada de rock and blues, declama a poesia: “O poço da loucura é muito fundo, o jardim da insanidade, cabe eu, você e todo mundo, quando você não mais servir, eles vão te esquecer, mais ai ganha quem sabe perder”. E na última faixa temos um lado B total da banda, Tarja preta, que mistura hard core e hip hop, com scratchs e samples em espanhol: “por que esta es la rumbia...” e a gritaria come solta, no jeito delicado de ser do Frontman Chorão:
“Seu porra do caralho eu tô falando com você
Porque um louco quando quer faz a terra tremer
Eu sinto que o mundo e as pessoas não confiam em mim
Eles fazer cara feia quando olham pra mim”
O disco se encerra com a frase: “Afim de prevenir distúrbios em pessoas idosas e sensíveis, Charlie Brown não deve ser consumido por pessoas simpáticas”.
O Disco tem um dentadura na capa, pois segundo a banda, representa a situação do povo brasileiro, com sorisso postiço. Para esse álbum tivemos Chorão, Champignon no Baixo e beat box, Marcão na Guita e pelado na batera. Escuta ai mano:
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