Com 20 anos na estrada da música, Marcelo Marcelino lança
se primeiro disco solo, ele que foi o frontman das bandas Sem Destino e
Madrenegra, com diversas passagens no evento “Porão do Rock” e no
lendário “Rock In Rio”.
No trabalho intitulado “Marcelo Marcelino”
o poeta traz influências de tudo ao seu redor e de ícones como Raul
Seixas, Belchior, Beatles e Bob Dylan, mas se engana quem pensa que o
trampo é uma mera cópia dos estilos dos músicos citados, Marcelo
Marcelino vem mostrar sua veia própria e cravar seu nome no rock n’roll
nacional.
O disco abre com “Alguma Poesia”, em que o cantor declama um poema, mostrando o conteúdo lírico que o álbum terá:
“Saiba
meu amor, saiba que a inocência nunca foi uma flor / E não se agarre as
dores do passado / Por que elas são velhos heróis em busca de um novo
filme / A partir de agora nada será como antes / é apenas o fim, o fim
do velho mundo que havia dentro de você / E o fim das pequenas coisas
que você enxergava com olhos tão miúdos / É apenas o fim por que a
inocência acabou”
A música dois é “Profecia De Mendigo”,
que já chega pesada no bom estilo do rock n’ roll clássico, aqui
Marcelino traz para a reflexão o tudo e o nada e a fé das pessoas mais
simples:
“E
lhe pergunto meu amigo quanto vale Jesus Cristo pendurado no pescoço de
mendigo? / E lhe pergunto meu amigo quanto vale Jesus Cristo pendurado
no pescoço de mendigo?”
A terceira faixa é a balada “Caminhos Perdidos”,
que fala sobre os sonhos e ambições, e sobre como o momento atual a
humanidade é uma busca incessante pelo sucesso, e por ir contra a
corrente, muitas vezes nos sentimos perdidos e como é angustiante parar
para refletir e tantas vezes se sentir sozinho e triste em meio as
respostas encontradas:
“A
minha vida é quase um sonho repetido / Tenho todos os caminhos e estou
perdido / Caído em meus grandes sonhos, ideais / Eu apenas descobri que
bom da vida se esconde em segredos mais banais / E com certeza anjos e
crianças são sinceros, não precisam de promessas / E as coisas simples e
pequenas se completam muito mais depressa.”

A música seguinte é “Sem Destino”
que versa sobre a solidão, e quando as coisas parecem parar de fazer
sentido, nem as válvulas de escape frequentemente utilizadas para
driblar os pensamentos que assolam a mente em momentos introspectivos:
“E
tô perdido sem dinheiro, sem abrigo, sem lugar pra ficar / Não tenho
muito que esperar / Essa noite sonhei que era um escravo que havia se
revoltado por que estava livre, mas livre no mundo errado / E tô perdido
sem dinheiro, sem abrigo, sem lugar pra ficar / Não tenho muito que
esperar”
A música “A Balada de Rosa e Montanha”,
em palavras do músico, “trata da adoção de uma criança por um casal
homoafetivo. O Brasil vive uma guinada conservadora que classifico de
hipócrita. Todo tipo de preconceito aparece com força nas redes
sociais”:
“Montanha
é um anão de 1 metro e 40, um grande coração e alma muito nobre / O
amor da sua vida é uma negra bonita, de 1 metro e 80, que se chama Rosa /
E a Rosa um dia também foi um menino, que era menina de alma e coração /
E a Rosa cresceu sem amor de família, seu pai ignorante só lhe dava
humilhação / E a Rosa viveu abandonada na rua conheceu a dor da fome e a
discriminação”
“O Homem Esfarrapado”,
é uma letra que retrata um acontecimento real, em que enquanto
Marcelino estava sentando á mesa de um bar um homem esfarrapado surge
lhe pedindo ajuda monetária, ele ajuda o cidadão e logo é taxado de
otário por aqueles que viram a cena, porém logo surge o homem
esfarrapado, com as crianças, e vários mantimentos que conseguiu comprar
com a ajuda, sendo essa a lição de moral, contra o pré julgamento que
estabeleceram naquele bar:
“Um
sujeito envelhecido muito magro esfarrapado / Caminhava decidido e
parou bem do meu lado / Era estranho e conhecido estava calmo e agitado /
Parecia ser amigo mas fiquei bem preocupado / Ele deu um outro passo
bem na minha direção / Me olhou dentro dos olhos depois me estendeu a
mão”
“Anjo Doido”
é a canção número sete, com belíssimo solo de gaita, a música fala
sobre um novo capítulo, mas relembrando tudo que passou até o momento,
do suor empenhado em muitas atividades, que apesar das quedas, que
muitas vezes quebram nossas asas, temos que seguir em frente, a canção
fala justamente sobre a volta por cima, em uma mensagem positiva e de
otimismo, e sobretudo de determinação, como Marcelo cita “Não vai ter
final, pra quem não vai desistir:
“Não
sei que anjo doido atravessou o meu caminho / Mas se era pra mudar,
então fui lá e mudei / Agora eu ando leve, alucinado, tranquilo / E a
minha asa quebrada eu já consertei”
Seguindo o disco temos “Retirante”,
com lindos arranjos e letra idem, que fala da saída de casa em busca do
horizonte próprio, numa jornada que todos devem seguir para encontrar
sua identidade própria:
“Ainda
me lembro muito bem quando eu cheguei nessa cidade / Tudo era novo,
nada era novidade / É tão estranho ser estranho numa terra distante /
Tentando ser a cópia do que eu nunca fui antes / Mas o tempo do meu
verbo, sujeito dissonante / Quem chega do passado sempre foi um
retirante”
Na faixa nove, Marcelo Marcelino fala de um “Jeito Estranho” sobre erros e acertos, traçando uma liberdade do passado para encarar um novo futuro:
“Não
leve a mal esse meu jeito estranho / Ficar sozinho as vezes me faz bem /
Eu te desejo muito amor e sorte / Meu coração reparte o que tem”

“Puta Que Pariu. Aconteceu Outra Vez”,
faixa dez, chega numa pegada mais acelerada, mais sem perder a essência
do álbum, que conta a história de um sujeito que se envolve em
confusões pela madrugada, enquanto busca evitá-las a todo custo, mas
quando se dá conta:
“Puta
que pariu acontece outra vez / Lá vou eu de novo sem razão, perdi o
freio / Puta que pariu acontece outra vez / Lá vou eu de novo sem razão,
perdi o freio”
Promovendo um brilhante encontro do violão acústico com a guitarra elétrica, a faixa "Igreja do Cartão De Crédito” é recheada de crítica contra aqueles que exploram a fé do povo:
“Quatro
horas da manhã ligo a TV e aparece um sem vergonha / Suor escorre do
seu rosto, ele grita o nome do diabo / Vai te embora satanás que esse
cheque agora é meu / Abandona esse bolso, eu pego grana para Deus”
Seguindo, tem “O Milagre Do Cego Benedito”,
a história de um cidadão com ausência de visão, e com situação
financeira precária e sem estrutura familiar, mas que mesmo com a
adversidade não deixou a peteca cair e manteve sua hombridade firme:
“Benedito
é meio cego de nascença / Não vê direito a luz do sol / Desde pequeno
se sentia diferente / E andava sempre só / Mas Benedito sempre foi muito
esperto / Tinha coragem e decisão / Já enfrentou até uma gangue de
pivete para defender o seu irmão”.
A penúltima música é “Meu Amigo Olha Só A Ironia”,
que fala dos ladrões de terno e gravata do congresso e das igrejas, do
clima de tensão devido a violência e a cultura pobre que somos quase que
obrigados a ingerir:
“Eu
aprendi que é preciso ser criança para manter a esperança e enfrentar
toda a maldade / Eu peço a Deus um pouco mais de alegria, pra ganhar um
pouco mais de sabedoria e viver com liberdade / Meu amigo olha só a
ironia / Você não percebeu que é roubado todo dia”.
E fechando o disco com chave de ouro, a música “Eu Também Estava Lá”, que sintetiza toda a critica em meio a poesia do disco numa cação mais direta e reta:
“Lembra
aquela gente fazendo passeata? / Pedindo a prisão dos ladrões de
gravata / Naquele pais onde o crime organizado te rouba alegremente
protegido pelo estado / Aqui não tem justiça, nem ordem e progresso / E a
casa do bandido é o Palácio e o Congresso”.

O disco Marcelo Marcelino vem perfeitamente trabalhado na crítica social e política, e como o próprio cantor comenta: “O álbum é uma espécie de antítese ao imediatismo moderno. As pessoas não têm paciência de ouvir músicas com mais de dois minutos”,
ao longo das 14 músicas Marcelo explora canções longas com histórias
diferentes e marcante, esse não é um disco para ser esquecido, é pra
ficar martelando nas ideias: “O álbum não passará batido por quem ouvir”, diz Marcelino.
Abordando temas atuais e colocando o dedo na ferida Marcelo Marcelino
chega chegando, mas traz a suavidade da MPB na voz e nos arranjos, o
disco é extremamente critico e contestador, mas também é uma obra de
poesia e faz muito bem aos ouvidos se deliciar com as aventuras do
trovador solitário.
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