Diretamente
da cena do rock gaúcho o baixista e letristan Marcelo Cougo concede uma
entrevista para o Submundo do Som, representando o som pesado da banda
Eu Acuso, falando um pouco sobre as inspirações do grupo, processo
criatvo, questões politicas do pais e sobre o novo disco "Sindrome de
Estocolmo" e a faixa que já está na web: "Marcha dos Patifes", confere
aí:
1-) Quem é a banda? Quem é cada um dos músicos, quais as experiências que já tiveram anteriormente?
A banda é formada por Sandré Sarreta no vocal, Carlos Lots na guitarra, Ale Mendes na bateria e Marcelo Cougo no baixo.
Já
tivemos uma banda anteriormente chamada Bleque, que lançou um CD em
2005 e trabalhava um som mais leve, mas com pitadas de peso e letras com
consciência social. Marcelo já tocou em bandas pesadas como Panic e
Distraught e Bataclã FC, é compositor com músicas gravadas em outros
estilos. Carlos foi guitarrista da Leviaethan, tendo gravado os dois
discos da banda.
2-) Como a galera se juntou e formou a banda? Por que do nome “Eu Acuso?
A
banda foi formada pra que e gente estivesse junto novamente, depois do
fim da Bleque, com uma proposta de fazer um som com peso e um pouco de
balanço, com letras com críticas sociais. O nome é inspirado no livro Eu
acuso, de Émille Zolá, um compilado de artigos do autor, em defesa da
liberdade e contra o preconceito e a arbitrariedade, na França do final
do século XIX.
3-)
O que cada um gosta de ouvir? Quais são as referências de cada um e da
banda de forma geral? O que curtem de música nacional?
Eu,
Marcelo, gosto de ouvir de tudo, e é claro que rock pesado e Heavy
Metal entram nessa parada também. Os outros integrantes vão na mesma
linha, com algumas preferências pelo grunge noventista e o Thrash metal
oitentista. Muita música brasileira também, de variados estilos e
ritmos. Particularmente tenho prestado atenção ás bandas locais como
Distraught, Hempadura, Wolftrucker, Space Guerrilla, Roots NR, Sacrário,
etc, rappers locais também como Sirilo da Fusão e Sintomas Clã, entre
outros.
4-) E qual é o som que vocês não ouvem de jeito nenhum?
Não
sou fechado para nada. Se não gosto não ouço novamente, mas preciso
saber do que se trata. Geralmente música feita pra vender, com suas
fórmulas de sucesso e mensagens degradantes e alienantes não são uma
opção, mas às vezes podem até mesmo divertir, dependendo do contexto.
5-) Como é ser uma banda de rock pesado no Rio Grande do Sul? Como é a adesão do povo?
É
muita luta pra fazer acontecer, realizar os eventos e tocar o barco
pensando em sustentabilidade. A adesão não tem sido um ponto positivo,
mas o cenário tende a melhorar na medida em que as bandas se unam para
realizar bons eventos. Tocamos muito na rua, no início da banda, e foi
bom pra que uma galera diferente curtisse nossa mensagem. Agora, nesse
novo momento a ideia é retornarmos a algumas cidades que já tocamos e
conhecer novas cidades e outros Estados.
6-) Como é fazer rock no Brasil nos dias de hoje? Qual a visão da banda?
Fazer
rock, de maneira honesta e compromissada com a arte, é ao mesmo tempo
uma busca por liberdade de expressão e diversão com conteúdo, ao menos
no nosso caso. É fazer um esforço para que seja possível ter uma banda
ativa, lançando coisas novas, buscar alternativas dentro do mercado e
tentar ser diferente dentro do nosso estilo. O país é cheio de
oportunidades, ao mesmo tempo que é vítima do pior monopólio midiático
que tem feito muito estrago na nossa cultura. Dentro dessa visão temos
uma missão de descortinar essas armadilhas, denunciar e construir
alternativas coletivas ao que é posto para nós.
7-) Da onde vem a inspiração para as letras da banda?
Da vivência, da busca pela verdade escondida atrás do noticiário, pela opção de falar sob a perspectiva dos oprimidos.
8-)
Como é um Show da banda Eu Acuso, qual a mensagem que vocês levam para o
palco? Conta um pouquinho pro público que não conhece o trabalho.
O
show é pegado, como um bom show de rock pesado! Buscamos ao vivo tocar
como as coisas foram gravadas nos álbuns, por isso mesmo não abusamos de
overdubs nas gravações. Quem nos assiste costuma elogiar e buscar
seguir o trabalho da banda.
9-)
A banda possui letras fortes e questionadoras, vocês acham que isso
pode fechar portas? De repente impedir a banda de ir em certas rádios e
emissoras de TV?
Tomara que sim, significaria estar fazendo a coisa certa!
10-) A música “Lona Preta” inicia com um recital de poesia, vocês participam de sarau ou algo do tipo?
Essa
letra foi escrita a partir de uma ocupação realizada pelo MST, aqui
perto de Porto Alegre, em que eu e um companheiro de trabalho fomos
fazer uma cobertura jornalística. Escrevemos o artigo e ele gerou a
letra, a leitura é feita por Jefferson Pinheiro, do Coletivo Catarse,
autor do artigo e coautor da letra da música. Totalmente baseada em
fatos reais, pois lá estávamos, vendo a luta pela terra e pela vida,
direito de todos nós.
11-)
Ainda na questão das letras fortes e de cunho politico, no sentido do
protesto, vocês fazem a denuncia através do som, algum integrante da
banda se manifesta de outra forma cultural, tipo manifestos, artigos,
textos, grafite, etc?
Eu
trabalho em um coletivo de comunicação e cultura chamado Coletivo
Catarse. Lá a gente constrói muitas narrativas alternativas ao discurso
hegemônico. Tb trabalho em um movimento político de torcedores do Inter,
que luta contra a elitização do nosso futebol, que eu vejo como cultura
e direito ao lazer, de todos os brasileiros. Trabalho com audiovisual e
com educação popular, Pontos de Cultura e mídia livre.
12 -) O momento politico que o pais vive, qual a opinião da banda sobre o assunto?
Momento
delicado mas rico demais!! Penso que por ter havido uma política mais
voltada contra a desigualdade social, apesar de não se ter mexido nas
estruturas de poder, o país passou a ser alvo de sabotagens internas e
externas. Um governo de coalizão, cada vez mais voltado para a direita e
atolado em denúncias de corrupção também não ajuda muito. O que se vê é
um misto de tudo que temos de pior: denuncismo e moralismo seletivos,
um fascismo dando as caras nas redes sociais e nas ruas, preconceitos de
todos os lados, uma mídia vendida e tão corrupta quanto os nossos
piores políticos e uma multidão alienada e bovina. Mas há sempre quem
lute e muita esperança também. O que não pode se deixar barato é essa
tentativa baixa de golpe institucional. Se a democracia representativa
não está dando conta de nossas demandas não será com golpismos que
resolveremos a questão. Precisamos sim é aprofundar a democracia, de
forma coletiva. Penso que esse é o caminho para nos libertar das
desigualdades inerentes ao sistema.
13-)
O novo som "A Marcha dos Patifes" mais uma vez vem acusando a falsa
moral, a hipocrisia, o ódio em forma de protesto que grupos religiosos
pregam, e a idolatria ao dinheiro. Vocês acham que vivemos numa de
valores trocados? A humanidade tem jeito? Qual a mensagem que vocês
podem passar para quem houve a banda, para quem gosta do rock n' roll,
quem curte um bom som?
Essa
letra foi feita com raiva. Para escrachar essa gente ridícula que vai
pra rua protestar contra a corrupção dos outros, com o rabo cheio de
dinheiro sujo!! Onde já se viu ficar tirando selfie com a PM paulistana,
uma das que mais mata no mundo? Onde já se viu pedir a volta da
ditadura e que os EUA venha nos salvar? Gente mal intencionada! Então
foi pra eles o recado dessa letra. Não ficaremos quietos, e nossa
maneira de lutar é fazer música de protesto.
14-)
O que podemos esperar do novo disco da banda: Síndrome de Estocolmo?
Podem adiantar um pouco desse trabalho? O que mais que o Eu Acuso tem de
novidade para esse ano de 2016?
O
álbum vem na linha do Liberdade Presumida, com muita crítica nas letras
e peso no som. Amadurecemos mais alguns conceitos musicais e tenho
certeza que vai agradar quem já gostava do nosso som. 2016 é pra
consolidar a banda e abrir novos horizontes e eu tenho certeza que vai
ser muito importante pra nossa trajetória!
A banda disponibilza para download o album "Liberdade Presumida", como texto extraído do site: A
denúncia, a liberdade e a ação fazem parte da filosofia do Eu Acuso!,
por isso todas as músicas são licenciadas para livre circulação e
reprodução.
Full disc Liberdade Presumida, dá um play ai!
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